terça-feira, 9 de agosto de 2011

A iniciação esportiva em perspectiva

A Iniciação Esportiva em Perspectiva

De certa forma o envolvimento com esporte é algo corriqueiro na vida das crianças brasileiras, e ainda cedo muitas delas iniciam sua trajetória particular. Para Santana (2005), a iniciação esportiva é o período no qual a criança começa a aprender de forma específica e planejada a prática esportiva, em busca de uma iniciação em uma ou mais modalidades que proporcionem a criança continuidade ao seu desenvolvimento de forma integral, sem a necessidade de estarem envolvidos em competições regulares.
O mesmo autor (2008) também nos diz que o ensino do esporte deve estar vinculado ao projeto pedagógico da escola, atendendo seus objetivos, e o professor, neste contexto, com a tarefa de dar um tratamento pedagógico para o esporte de tal forma que esse possa auxiliar na direção de educar e emancipar os educandos.
Bergamin (2007) recorre a Incarbone (1990) para nos chamar a atenção de que na iniciação é importante fazer com que a criança desenvolva varias habilidades motoras. Ainda, em alguns casos, contrapondo-se ao esperado que seria tratar pedagogicamente o esporte, muitos profissionais e especialistas utilizam uma pedagogia pautada em referenciais de rendimento; conquistas, quebra de recordes, resultados imediatos. Logo uma pedagogia preocupada menos com a educação e complexidade e mais com a descoberta e revelação de talentos, algo que segundo Santana (2004) não deveria ocorrer.
Ao abordar o assunto em foco, Voser (1999) coloca que ao orientarmos os que iniciam nos esportes devemos possuir a clareza que a atividade esportiva por si só não educa, os seus efeitos educativos dependem da situação na qual se cria especialmente em relação aos aspectos de interação-social ao clima afetivo, emocional e motivacional existente e disto depende a perspectiva pedagógica que adotamos. O que, por conseguinte implica na intervenção do professor, que em si caracteriza um modo de educar.
Mutti (2003) descreve que a educação é uma trabalho essencialmente humano, ou seja, homem interferindo na formação de outro homem e nenhum trabalho humano pode ter efeito sem uma metodologia consistente, o método didático é um dos mais importantes fatores que o professor dispõe para realizar o ensino. Mutti (2003) citando Nérice nos diz que o método didático é um conjunto de procedimentos escolares lógicos, psicologicamente e pedagogicamente estruturados em que o professor se baseia para orientar a aprendizagem do educando a fim de que este adquira conhecimentos e técnicas ou assuma atitudes ideais.
Destarte Voser (1999), coloca que as principais tendências pedagógicas são definidas como reprodutivas tradicionais e reprodutivas construtivistas. A concepção reprodutiva tradicional é aquela que tem como prioridade as capacidades intelectuais situando-as como primeiro e mais elevado objetivo na formação do indivíduo, seus procedimentos didáticos enfatizam processos normativos que objetivam uma disciplina rígida, é uma exposição de conhecimentos pelo professor aos educandos ouvintes e passivos. No caso da concepção construtivista pressupõe estratégias de intervenção pedagógicas manifestadas através da integração entre educação intelectual e corporal e de um conceito de autoconstrução, ou seja, o processo de elaboração do conhecimento se dá a partir da participação e intervenção ativa do indivíduo em todos os níveis de aprendizagem. O educador deverá adotar uma posição de estimulador dessas relações de interação.
Ainda com relação à questão, Garganta (1998) afirma existir duas abordagens pedagógicas de ensino do esporte: a primeira abordagem é uma abordagem mecanicista, onde a técnica é o aspecto central, onde o jogo é fragmentado em elementos técnicos como: passe, drible, arremesso entre outros. Os gestos são ensinados, aprimorados e especializados e como conseqüência os treinos tendem à monotonia, pouco criativos, ocasionando comportamentos pré-determinados e estereotipados, resultando na dificuldade do educando na compreensão do próprio jogo. Esses problemas podem provocar desvios na compreensão, aprendizagem e evolução do aluno. E a segunda abordagem é a das combinações de jogo contidas na tática por intermédio de jogos condicionados que são fundamentais para compreensão do jogo e preparam o aluno para o jogo na sua dinâmica. Ao ensinar algum esporte as crianças essas e outras questões devem ser consideradas, lembrando sempre que estamos lidando com sujeitos em formação.
            Mutti (1998) acredita que inserir crianças pequenas no esporte faz sentido se as aulas contemplarem, além de vivências das habilidades específicas, a vivência de habilidades básicas, de atividades diversificadas, oportunizando-os a experiência do jogar em diferentes posições e mesmo, sem guardar posições. Tendo em conta a freqüência semanal máxima de três vezes e a participação de todas as crianças independentemente do seu nível de desenvolvimento, nas vivências, nas brincadeiras e nos jogos adaptados; fomentando um ambiente alegre, rico e com possibilidades de desenvolver os aspectos sociais, morais e cooperativos num ambiente livre de pressões e expectativas.
Isto também é o que defende Santana (2002) ao propor uma inter-relação entre a pedagogia do esporte e o pensamento complexo com a iniciação esportiva. O autor acredita que a pedagogia do esporte tradicional foca suas intervenções no campo da racionalidade, deixando à margem do processo dimensões humanas sensíveis como afetividade, racionalidade, e que, do pensamento racional resultam atitudes pedagógicas como supervalorização da competição. Para ele a competição de jovens crianças não deve ter seu fim em si mesmo, ou seja, não deve buscar nas competições os resultados esportivos e sim os resultados relacionados ao desenvolvimento da criança.
E no caso, a pedagogia esportiva não se resume a métodos de treinamentos, ela é mais complexa do muitos imaginam. Nela, outros valores são encontrados paralelamente ao competir, como: a participação, a alegria, a cooperação, a perseverança e a auto-estima, que em poucas oportunidades são levados em consideração. O enfoque dado pelos professores à competição, esse, sim, deve ser discutido como possibilidades de ir além do ensino do gesto técnico.
A iniciação esportiva é para Voser (1999) um processo de ensino-aprendizagem que proporciona ao educando condições de desenvolver as técnicas para o esporte em si, mas como o próprio autor enfatiza é momento para desenvolvimento e não de saturar meninos e meninas com sobrecargas para as quais precisam amadurecer. Ora Sabemos, que no caso aprendizagem das habilidades motoras fundamentais, não existe período melhor que a infância e onde, portanto, devem ser trabalhados os fundamentos da técnica, mas moderadamente, respeitando os limites e as fases de desenvolvimento da criança inserida no processo.
Vale ressaltar que estamos a tratar duma fase crucial para os seres humanos, pois, tudo que acontece no período da infância vai marcar os educandos no decorrer das suas vidas. E as lembranças de seus primeiros jogos, das alegrias ou dissabores, das realizações ou frustrações, pesam sobre a responsabilidade do professor de educação física, por ser ele na maioria dos casos quem inicia as crianças no esporte. (VOSER, 1999). Assim sendo, os profissionais ligados a iniciação esportiva deverão ter um conhecimento aprofundado ou até mesmo vivência no esporte que lecionam conhecimentos que inclui informações a respeito do grupo com o qual trabalhará suas condições e limitações. Para isso acontecer o educador deve estudar e pesquisar nas áreas diretamente envolvidas e está aberto ao conhecimento que se acumula e se renova.
Ainda recorrendo a Voser (1999) diríamos que na iniciação esportiva o educador deve desenvolver com seus alunos os aspectos de esquema corporal, equilíbrio, organização do corpo no espaço e no tempo, desenvolver a motricidade fina e não descuidar dos gestos que marcam essa fase da vida como correr, saltar, lançar, transportar, rastejar e rolar, pois do contrário estaremos limitando horizontes. O professor deve abrir espaço em suas aulas para uma grande quantidade de experiências motoras, bem como oportunizar uma grande variedade de objetos em situações diversas possibilitando assim, que o educando se conscientize do próprio esquema corporal. E no espaço escolar principalmente, fomentar um trabalho interdisciplinar integrando a educação física com as demais disciplinas da escola.
Realizar atividades de forma lúdica e recreativa quase sempre trará como resultado uma maior atenção e disposição da criança em realizar as atividades, pois para ela o que mais importa é o prazer de jogar e com alegria. Atividades nesta perspectiva devem priorizar a sociabilização, a integração, e a auto-estima, estimulando a criança à organização, a criação de atividades e isto não implica para o professor perder o controle da turma, mas, uma forma de conduzir a prática pedagógica mantendo a motivação dos alunos e o interesse deles sobre a atividade (VOSER, 1999).
Num de seus relatos Mutti (2003) afirma que para chegar ao domínio de habilidades complexas existe um longo processo e para isso as vivências com os movimentos fundamentais como andar, correr, saltar, rolar, etc, são valiosos e servirão diretamente de base para melhoria e aquisição de habilidades das etapas posteriores do desenvolvimento. À medida que o aluno cresce, apresenta melhoria e aperfeiçoamento das habilidades já incorporadas, como a capacidade de combiná-las com atividades sociais e intelectuais, o tempo de aperfeiçoamento das habilidades motoras está condicionado à condição do organismo de antecipar respostas mediante as adequadas compensações posturais. Assim sendo, as habilidades adquiridas e automatizadas pelo educando servirão de base para o desenvolvimento de outras etapas mais refinadas e complexas.
O autor acima, também nos diz que quanto maior for a variedade de experiências motoras que a criança tiver, maior será as possibilidades de desenvolvimento motor ampliado, o que não se adquire em tempo hábil do desenvolvimento motor da criança repercutirá negativamente. Ainda em suas colocações, ressalta que a iniciação da modalidade esportiva deve ser uma continuidade do desenvolvimento motor que está sendo realizado e nesse momento devem ser aplicados diversos movimentos e experiências que resultem no aumento do acervo motor da criança; o que ocorrerá paulatinamente através da combinação de jogos, gestos técnicos, regras e utilização de implementos o esporte praticado e incorporando-se ao acervo motor da criança.
Deste modo, deve-se incentivar os educandos de forma geral e ainda mais os que possuem maiores dificuldades de aprendizagem tecendo elogios e os motivando e para aqueles que possuem mais facilidade devem ter o compromisso, auxiliando o professor, de colaborar na transmissão da sua experiência, sem serem colocados como exemplos a ser seguido, pois cada um tem seu tempo próprio. Por isto, o professor deve respeitar a individualidade de cada criança e deve estar atento à progressão dos exercícios partindo sempre do mais simples para o mais complexo. Além do que, neste contexto, é preciso avaliar o desenvolvimento psicomotor dos educandos que aparentemente são mais desenvolvidos fisicamente, mas que possuem a mesma capacidade mental das outras crianças de sua faixa etária. A maturidade mental e motora das crianças deve ser digna de destaque e atenção (VOSER, 1999).
É de se ressaltar, que um simples trabalho de correção realizado em um período curto e agregado a repetição livre e controlada, permitirão ao educando atingir rapidamente uma execução segura e fácil. Essas correções devem ser realizadas com muito cuidado e atenção, pois a correção de forma exagerada pode tirar do aluno a motivação na realização das atividades. Nesta conjuntura, coloca Mutti (2003) que o movimento total é sinal que a aprendizagem do movimento terminou e que quanto mais correta for a execução do todo, mais correta será a execução das partes que compõem tal movimento.
De um modo geral, inferimos que no processo de ensino e aprendizagem do esporte, seja qual for à modalidade em questão, é significativo dar importância a fatores externos que possam interferir no trabalho realizado pelo professor. Mas é de igual valor enfatizar aqui os diálogos estabelecidos entre professores e pais - que exercem pressão exacerbada sobre seus filhos, projetando neles um campeão, que muitos não foram - a fim de mostrar o que essa pressão sem par pode acarretar (VOSER, 1999).
            Dada a importância que a iniciação esportiva tem assumido na atualidade, além da proliferação das escolas de esportes em nosso meio, bem como a ênfase acentuada deste fenômeno que mais e mais atinge crianças em formação; julgamos oportuno nesta parte do trabalho apresentar uma idéia das etapas de iniciação esportiva e as fases de desenvolvimento, com o objetivo de chamar a atenção de nosso leitor para as adequações que elas solicitam aos envolvidos com o ensino do esporte.
Vale destacar que a idéia que abaixo segue não é uma regra a ser seguida de forma irrestrita, mas tão somente, uma perspectiva a ser observada.

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