terça-feira, 26 de julho de 2011

A influência do ambiente no desenvolvimento do potencial de atletas

O futebol é visto por muitos como DOM DIVINO, como algo impossível de ser ensinado ou aprendido , motivando assim diversas pesquisas de professores comprometidos com seu ofício:  ensinar esportes, nesse caso, FUTSAL e FUTEBOL.
Nós professores de futebol e futsal precisamos acreditar na possibilidade de ensino do futebol e do futsal pois, caso contrário, ficaremos sem função, visto como enganadores de pais e crianças, vendendo um produto que não pode ser disponibilizado: o ensino do futebol e do futsal.
Poucas crianças conseguem se tornar atletas de destaque, ou até mesmo destaque em suas brincadeiras e peladas com amigos, mas será que elas não tinham potencial para se tornar bons jogadores ou apenas tiveram poucas oportunidades de desenvolver seu potencial?
Acredito que o número de oportunidades, o desafio à criança, a retirada dela da zona de conforto, entre outros fatores, possibilitam o crescimento do rendimento da criança, o maior desenvolvimento de seu potencial. Garganta em uma entrevista à Universidade do Futebol diz que:
“O talento não está lá...
O talento emerge a partir das oportunidades que
são conseguidas para a pessoa vir a tornar-se talento”.


Garganta (1995) acredita que os Jogos Desportivos Coletivos proporcionam um ambiente formativos por excelência mas para serem mais eficientes no seu papel formativo dependem da forma que serão abordados, tendo como objetivo central o desenvolvimento de diversas competências em variados planos. Dentre essas competências 2 são vistas como principais: cooperação e inteligência.
Cooperação entendida pelo mesmo autor como capacidade de comunicação através de situações que se apresentam no jogo, a partir de um referencial obtido do jogo seja essa comunicação entre componentes de um mesmo time ou a cooperação-oposição entre integrantes de equipes adversárias.
O autor acredita na caracterização do ambiente pela sua imprevisibilidade e conseqüente necessidade adaptativa de quem joga para obter êxito em sua participação naquele jogo.
O modo como a criança é iniciada no esporte irá influenciar no desenvolvimento de suas capacidades, uma vez que para jogar é necessária adaptabilidade esse discente precisar ser iniciado com uma metodologia que evidencie esse poder adaptativo, com atividades que tenham em seu corpo a necessidade da criança buscar melhores soluções  para os problemas provenientes de cada situação apresentada no jogo.  Na mesma entrevista citada anteriormente ele diz:
“No meu ponto de vista, o futebol se joga com ideias. O bom futebol se joga com boas ideias. O mau futebol se joga com más ideias ou sem ideias. Portanto, (no futebol) as questões táticas e estratégicas são fundamentais”.
E continua com a seguinte afirmação:
“Quanto mais oportunidades, mais o talento se revela”.

Se é necessário para ser um bom jogador tem boas idéias, ter passado por um grande número de possibilidades, ao meu ver, deve ser questionado o método tradicional, positivista, tecnicista buscando em métodos ativos, com abordagem interacionista as soluções para os problemas do jogo. A criança deve ser “treinada” para as diversas situações do jogo, através de JOGOS e não como um reprodutor de gesto técnicos que mesmo que deixem uma técnica razoável como herança deixam um fardo maior: a pouca adaptabilidade dessa técnica as situações de jogo, pois o contexto do treinamento está muito longe do contexto encontrado nos diversos momentos do jogo.
Para Garganta ( 1995) o jogo é um microssistema social, complexo e dinâmico e por isso não podem ser reduzidos a partes isoladas, pois essas partes não aparecem isoladamente em momentos de jogo, sendo necessário agregar competências para jogar melhor. Para tal Garganta acredita que para os iniciantes deve-se aplicar jogos com regras pouco complexas mas que motivem o pensamento da criança, fazendo com que ela busque alternativas dentro do jogo para com isso obter maior êxito em suas ações. Analisar bem os referenciais do jogo será o diferencial entre a criança que joga bem e a que ainda não consegue ter boa análise de cada situação presente no jogo jogado por ela.
Isto posto, para Garganta não acredita no fazer técnico desassociado da razão do fazer, vendo na razão do fazer algo que fará da criança um jogador mais inteligente.
Integrar as razões do fazer (tática) com o modo de fazer(técnica) sendo trabalhados a partir de jogos e formas jogadas tornando motivadora, acessível a criança propiciando a assimilação dos princípios do jogo é a definição da estratégia metodológica de Garganta.
Isso posto surge a seguinte pergunta: O craque seria craque tendo ele nascido em qualquer lugar ou o que faz dele craque é o grande número de experiências que ele foi submetido?
Acredito que o craque nasce com um potencial grande a ser atingido mas o ambiente ao qual ele foi submetido é de fundamental importância no desenvolvimento desse potencial. Pelé se nascesse na Sibéria teria se tornado o REI DO FUTEBOL? Acredito que não e você?
Gileno Siqueira

Referências
Garganta, J. Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos. In: Graça, A. Oliveira, J. O ensino dos jogos desportivos disponível em: http://www.fade.up.pt acesso em 22/07/2011
Reverditto, RS., Scaglia AJ, Pedagogia do esporte – jogos coletivos de invasão. São Paulo Ed.Phorte, 2009
Entrevista com Julio Garganta, Doutor em Ciência do Desporto partes I e II disponível em: http://www.universidadedofutebol.com.br/Jornal/Entrevistas/Default.aspx acessado em 15/07/2011

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O ex-atleta ensinando futebol? Considerações sobre o ensino do futebol através do craque

Nos dias atuais é cada vez maior o número de crianças praticando atividade física, seja na escola , clubes ou escolinhas de esporte. Existem várias justificativas para esse crescente aumento de pequenos praticantes: a possibilidade de ascensão social através do esporte, a exigência cada vez maior da sociedade para que todos pratiquem atividades físicas, entre outros. A partir dessa exigência  e da possibilidade de ascender na escala financeira da sociedade faz com que muito pais procurem escolinhas de futebol para seu filho, especialmente escolinhas ministradas por ex-atletas de futebol profissional: “os craques”.
A partir daí surge a seguinte pergunta: esses ex-atletas são os mais indicados para serem responsáveis pela iniciação esportiva dessas crianças?
O pai que procura esse tipo de escolinha acredita no empirismo, ou seja, na possibilidade da transmissão do conhecimento por pessoas que ficaram marcadas como grandes jogadores, “quem  jogou tão bem, pode ensinar melhor”.
Dessa idéia de ex-atletas ensinando futebol brotam questões que estão tomando grandes proporções na Educação Física à medida que a pedagogia do esporte avança demandando estudos cada vez mais detalhados acerca do ensino dos esportes, especialmente coletivos.
Como será que esses atletas ensinam futebol a seus alunos?
Será que eles acreditam na metodologia que aplicam?
Será que eles acreditam que futebol pode ser ensinado?
Ao conversar com o professor Alcides Scaglia ele falou sobre um estudo realizado por ele nas escolinhas de futebol ministradas por ex-atletas e encontrou respostas interessantes para essas perguntas.
Ele relatou que todos os ex-atletas entrevistados acreditavam que futebol não se ensina, é inato, alguns citando ser um “dom divino”, não podendo assim ser ensinado, sendo assim, como confiar a iniciação esportiva do seu filho a alguém que não acredita no trabalho que realiza?
A partir dessa conversa passei a acompanhar algumas escolinhas ministradas por ex-atletas e percebi algo comum entre elas: a forma tradicional de ensino.
Filas, repetição de gestos técnicos, cobrança exagerada para realização “perfeita” do gesto técnico, supressão do eixo criativo da criança. Esse profissionais estudam para realizar esse tipo de aula ou ele reproduz o que foi feito com ele enquanto atleta profissional de futebol?
Para Voser (1999) embora a perspectiva pedagógica destas escolas varie o que se vê na prática é que boa parte delas visam especializar a criança em uma única modalidade, projetando em muitos casos um futuro atleta. Sem contar que na maioria das vezes, deixa de respeitar as fases do desenvolvimento dos seus alunos, aplicando em seus treinos, métodos semelhantes aos treinamentos dos atletas adultos o que acaba comprometendo aspectos do crescimento, do desenvolvimento e da formação da criança.
O treino tradicional poda o direito de criar da criança, obrigando-a a realizar apenas o que é pedido pelo professor, onde é comum o grande nível de exigência, afinal são craques ministrando aulas e seus referenciais técnicos são muito altos.
Respeitar as fases de desenvolvimento da criança, proporcionar o aumento do seu acervo motor, propiciar o maior número de experiências do jogo gerando assim uma melhor tomada de decisão desses pequenos praticantes é obrigação do professor, e isso, ex-atletas normalmente não levam em consideração.
Um grande exemplo de que não precisa ser craque para ensinar futebol, para ser bom treinador, é José Mourinho, que apesar de ter jogado futebol, foi um jogador sem grande expressão, se tornando o grande treinador que é, após graduar-se em Educação Física e estudar os ensinamentos de vários professores, entre eles: Vítor Frade, o organizador da periodização tática.
Por isso pai, procure conhecer a formação acadêmica do profissional responsável pela iniciação do seu filho, ter sido atleta de qualidade não faz dele bom professor. Ser ex-atleta não exclui profissionais, desde que ser ex-atleta não seja a principal qualidade dele.
            Procure profissionais qualificados, atualizados, capazes de proporcionar a seus filhos uma iniciação prazerosa e eficiente para que no futuro ele venha a encarar a atividade física como algo realizador e agradável e não como um fardo, obrigado por seus pais.

                                                                                                                                 Gileno Siqueira

Metodologia de trabalho F3

Na F3 temos como norteador do ensino do esporte os seguintes princípios apresentados por Freire (2002,2003):
-Ensinar esporte a TODOS - independente de sua qualidade técnica, sua capacidade cognitiva, de seus objetivos ao praticar aquele esporte, nos esforçaremos para ensinar ao discente que nos acompanha da melhor forma possível, possibiltando a esse aluno prazer de praticar aquele esporte, no nosso caso futebol e futsal.
-Ensinar BEM esporte a TODOS - ensinar preocupado com a individualidade de cada aluno inserido no contexto,  buscando proporcionar o melhor ensino possível a cada aluno.
- Ensinar MAIS quer esporte a TODOS - pensar na condição humana de cada aluno, nunca esquecer do nosso papel educacional, juntando ao esporte princípios como ética, respeito, moral, laços afetivos, entender seu papel na organização social, entre outros aspectos.
-Ensinar a GOSTAR do esporte- instigar a criança a gostar de esporte, não apenas ao esporte no qual ela pratica na escola e nos clubes, fazê-las assistir, entender, compreender os benefícios da atividade física, enfim, a GOSTAR DE ESPORTE.
   Para ensinar tais princípios acreditamos na proposta metodológica utilizada por Freire, Garganta, Santana, utilizando por exemplo as palavras de Garganta (1995) no ensino do jogo coletivos através dos jogos condicionados, orientados para a compreensão do jogo ( o motivo do fazer, porque fazer determinada ação), integrando esses jogos à sua especificidade técnica ( como fazer) transferindo a prática dos jogos condidionados, por assimilação dos princípos comuns do jogos, utilizando-se principalmente de formas jogadas, jogos motivadores e desafiadores.
   Com isso, nos preocupamos em estar sempre em constante mutação, buscando sempre novas formas de ensinar esportes, fugindo do modo tradicional onde filas e repetição "robotizada" acontecem aos montes, ocorrendo em muitos momentos, aliás em quase todos, gestos técnicos que foge demais das realidades encontradas no jogo, onde o como fazer o passe é mais importante do que efetuar o passe com a parte interna do pé, com o pé de apoio ao lado da bola, pois em situação de jogo nem sempre é possível. Buscar jogos onde propiciem aos alunos entrar no que Scaglia (2003) chama de ESTADO DE JOGO, que consiste em aluno/atleta motivado, preocupado em resolver os problemas que se apresentam no jogo, com sua realidade focada no jogo em si, esquecendo durante o jogo do "mundo real"
   Ainda tomando de emprétimo as palavras de Scaglia (1999), acreditamos na iniciação esportiva  em blocos:
7-8 anos - fundamentos básicos do esporte que se pratica, atenção na oferta do maior número possível de situações para aumentar o acervo motor da criança, o jogo nessa fase é nas palavras de Garganta (1995)- ANARQUICO;
9-10 anos - ainda foco nos fundamentos básicos da modalidade, concretização dos fundamentos básicos aprendidos anteriormente, aperfeiçoamento e desenvolvimento dos fundamentos específicos da modalidade- nessa fase o jogo é para Garganta (1995) DESCENTRALIZADO, a criança passa a se preocupar além do seu jogo, com o jogo do seu colega.
11-12 - jogo passa a buscar os fundamentos secundários, derivados dos primários (maneiras de passar, de marcar, de chutar, etc), aprimorar e desenvolver tais fundamentos - para Garganta ( 1995) jogo ESTRUTURADO.
13-14 anos - Fundamentos táticos, posição/função do jogo sendo focado, parte tática e estratégica sendo evidenciada, para Garganta (1995) - jogo passa a ser ELABORADO, com melhor ocupação de espaços, movimentações combinadas, maior sentido de equipe.
   Respeitar essas fases de desenvolvimento das crianças e com isso atingir os PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS CITADOS no começo desse artigo são nossos maiores desafios, desafios que acreditamos estar vencendo, mas sem nos acomodar com isso e sim nos mantermos inquietos, buscando evolução a cada dia.

"Toda criança tem direito ao esporte, mas toda criança tem direito a não ser um campeão"
(carta dos direitos da criança no esporte)
                                                                                       Gileno Siqueira

F3 ESPORTES

A F3 esportes é um grupo idealizado por Cuíca e Gileno, ambos professores de Educação Física com hailitação plena, com o intuito de ser um contraponto na maneira com que se trabalha a iniciação esportiva em Pernambuco. Com o passar do tempo forarm se incorporando outras atividades como a de promover treinamentos individuais para os interessados, tendo a ajuda imprescindível de Caio.
    Temos como objetivo principal trabalhar com nossos alunos de maneira mais humana, levando em consideração não apenas as valências físicas mais também focando no desenvolvimento social, afetivo, cognitivo, etc.
   A F3 vêm disputando competições oficiais de Futsal em nosso estado inclusive alcançado alguns resultados expressivos mas sem pular etapas, fazendo o caminho pedagógico mais consistente, para com isso gerarmos alunos mais inteligentes e com maior capacidade adaptativa à diversas situações.
   Estamos a cada dia buscando aumentar a nossa gama de amigos, companheiro, alunos e porque não, divulgadores. Divulgadores pois temos a certeza que um trabalho bem feito será indicado a outras pessoas para que esses novos amigos possam conhecer e participar dessa equipe.



                                                             Abraço a todos,
                                                                                          Gileno Siqueira