sábado, 27 de agosto de 2011

Uma Abordagem em Torno da Especialização Precoce


 Uma Abordagem em Torno da Especialização Precoce
 Bompa (2002) esclarece que a especialização precoce se constitui numa prática sistemática de um único tipo de esporte antes da puberdade, esporte este predominantemente competitivo, exigindo elevada dedicação aos treinamentos e com objetivo de se alcançar resultados (títulos) em curto espaço de tempo.
Também, Santana (2001, 2004) conceitua treinamento intensivo precoce (especialização precoce) o período onde a criança é submetida a programas e métodos especializados a sobrecargas da qual não está amadurecida para suportar. É quando a criança faz sistematicamente um único tipo de esporte e quando a literatura especializada diz ser o momento da diversificação. O mesmo autor (1996) coloca de modo bastante apropriado, que isto acontece especialmente no futsal e que lhe resulta críticas de diversos estudiosos do desenvolvimento e da pedagogia esportiva. Pois, tornou-se comum neste esporte a inclusão de crianças em competições federadas, disputando regularmente competições com nível de exigência acima do suportado por esses “pequenos praticantes” culminando na especialização precoce tanto do ponto de vista técnico, como tático.
Muitas vezes essas competições conservam regulamentos similares ou até mesmo idênticos aos utilizados nas categorias maiores o que tem gerado devido ao despreparo de pais, dirigentes e professores uma situação diferente da buscada no esporte infantil: o clima hostil, de muita rivalidade que muitas vezes provocam atritos entre equipes adversárias. (COELHO, 2000). 
Sabe-se que numa escala acentuada a iniciação esportiva não tem obedecido algumas diretrizes pedagógicas e que estão postas em diversos teóricos do campo esportivo, para quem deseje delas se apropriarem considerando que o rendimento em crianças deve ser relativizado, tendo como prioridade a aprendizagem e não os resultados, que o esporte na infância deve se constituir num agente facilitador educacional sendo utilizado interdisciplinarmente. Algo nesta direção é discutido por Paes (2002) quando propõe evitar a prática regular de apenas uma modalidade esportiva antes dos 10 anos de idade.
Ora não obstante os abusos cometidos, ensino de uma modalidade esportiva deve acima de tudo adequar suas ações para aqueles que nela buscam iniciar por este universo. A prática docente tem um papel primordial neste contexto e a depender da sua direção, muito dos garotos envolvidos com o esporte poderão prolongar sua vida esportiva sem correr o risco de saturarem cedo emocionalmente ou em outros aspectos e abandonar o esporte.
Algo deste particular é colocado por Santana (2001) ao afirmar que se a pedagogia conduzir os educandos a se especializar na execução de gestos técnicos, em jogar em apenas uma posição, a dedicar-se mais de três sessões semanais de treinamento, a se sentir reserva ou titular (e com isso participar mais ou menos dos jogos), a prescindir do lúdico (parar de brincar por ter que treinar e jogar), a competir formalmente, isto repercutirá negativamente em algum momento na vida dos aprendizados. É preciso, portanto, levar em conta a idade dos iniciantes, pois senão, corremos os riscos de está desenvolvendo trabalhos inadequados e de caráter precoce e para essas crianças envoltas no egocentrismo próprio dessa fase e presas aos objetivos individuais, não é simples entender os objetivos propostos para elas por pais e professores e com isso tendendo a desmotivar-se a abandonar o esporte.
Não recriminamos assim como Santana faz sentido in a iniciação ao esporte, desde que as aulas contemplem além das vivências esportivas, outros aspectos caros neste momento como: habilidades básicas, atividades diversificadas que possibilite o enriquecimento do acervo motor. Assim, é imprescindível a participação de todas as crianças envolvidas neste ambiente independentemente do nível de desenvolvimento, de modo a favorecer um alargamento das interações sociais, culturais, morais, educacionais e cooperativas, opondo-se as limitações que se dá dentre outras formas pela especialização de posições e funções no jogo, culpando os mesmos por erros, ou até “punindo” aqueles com menor aptidão com a não participação de jogos.
Partes das afirmações acima corroboram com os argumentos amplamente embasados na literatura de que as crianças apenas deveriam aprender mais sobre algo específico, (no caso nos reportamos à especificidade do treino) após conviver com a diversidade (PAES, 2002).
Em alguns casos, realizando o oposto do esperado, ao tratar pedagogicamente o esporte infantil, muitos dos professores que trabalham nas categorias de iniciação utilizam costumeiramente uma pedagogia pautada no rendimento esportivo, logo uma pedagogia menos preocupada com educação em sua complexidade e mais com a descoberta de talentos promissores, ferindo assim algo buscado pelos “pequenos” quando se voltam para o esporte na iniciação. Quase sempre, valores como cooperação, alegria e liberdade entre outros passam a ser colocados em segundo plano onde deveriam ser princípios norteadores da pedagogia do esporte infantil. Ao desvincular a iniciação esportiva de uma finalidade educacional, a pedagogia dos professores que trabalham com esporte na infância, apresenta diversas lacunas. É por tal condição que Santana (2004), aponta o quanto os especialistas deveriam reconhecer a conexão existente entre esporte na infância, educação e complexidade. Só para refletirmos a importância do assunto em questão, De Rose Jr (2002) cita que o início de competições pode variar de acordo com a modalidade, tendo registros de crianças participando de competições de ginástica e natação a partir dos 3 anos de idade.
Com relação a este fato, Santana (2001) diz haver vários indícios de que muitas são as crianças que iniciaram precocemente na vida esportiva e por lesões, estresse de competição, treinamento, desinteresse, saturação, entre outros abandonaram o desporto escolhido ainda muito novo. E tal quadro por si só, já caberia uma reflexão pelos profissionais da área acerca da metodologia adotada, a questão é que muitos depois de formados ou mesmo ao longo do curso lêem muito pouco, o que reflete na prática pedagógica e na postura.  Isto deduzimos a partir de nossa experiência enquanto aluno do curso que concluímos recentemente em 2010 e também como profissional que atua na área..
Alguns autores como Voser (1999) e Santana (2001) revelam prevalecer neste ambiente da iniciação, uma carga de treinos excessivos e que tendem a uma saturação dos alunos e no momento que a submissão das crianças aos seus pais vai diminuindo, elas acabam largando a prática do esporte. Essa criança tende a não praticar mais esporte, a não inseri-lo na sua cultura e caso tivesse talento para ser desenvolvido, não iriam adiante encerrando a vida esportiva cedo, não desfrutando do esporte de rendimento.
Esta parece ser uma questão que na atualidade, se verifica em grande escala no cenário esportivo, principalmente pelo fato de imperar uma lógica de formação que apenas importa revelar talentos esportivos e que caberia um estudo local de maior fôlego, por exemplo, verificar o que prevalece na prática do esporte escolar das crianças da rede pública e privada de Recife.
Pois, para Korsakas (2002) uma prática com fins educativos não pode pautar-se na seleção de talentos e na especialização dos talentosos deixando os menos talentosos a margem do processo, sendo assim excludente por essência escolhendo poucos para terem direito aos seus benefícios.
Sobre este mesmo assunto Santana (2001) cita que alguns princípios e procedimentos devem ser construídos para ensinar o esporte na infância que sejam antagônicos a outros, voltados apenas para especialização, a seleção, a revelação de talentos e conquistas esportivas.  Essa nova maneira de ensinar esporte deve ser um facilitador às crianças na construção de sua autonomia, dentro dessa perspectiva o esporte é um facilitador para atingir os fins descritos anteriormente. E na sua concepção crianças não devem ser obrigadas a aprender muito sobre determinado assunto, devendo sim ser incentivadas a aprender sobre vários assuntos é a idéia da ampliação da base motora (SANTANA, 2004.).
Ora ao levarmos em conta que a especialização precoce tem suas implicações e conseqüências, entre as tais os danos a que são expostos, apresentamos em linhas gerais aspectos negativos ligados a este fenômeno esportivo, disposto assim da seguinte forma e com base principalmente no que sugere Santana (2001) e outros:

v  Danos causados a criança
Competições regulares, aprimoramento de gestos técnicos, assim como conhecimento tático e as capacidades físicas direcionadas para o rendimento esportivo que também é uma forma de especialização precoce, nesse tipo de treinamento, a criança sofre pressões para comportar-se como alguém que não é refletindo uma situação inútil que leva os professores a tomarem o tempo dos outros de serem crianças.
Mutti (2003) neste sentido acredita que quando temos o treinamento voltado para busca de resultados imediatos a iniciação esportiva adequada fica cada vez menos em foco. O problema fica acentuado quando vemos cada vez mais adeptos a essa pedagogia devido ao status de vencedor ao quais os treinadores que terão melhores resultados em curto prazo que lhes conferem certa visibilidade no ambiente esportivo. No entanto, a verdadeira face da competição é a produção de mais perdedores que vencedores, esse grande número de derrotados esportivamente podem se desencorajar aqueles que não possuem capacidade e habilidade suficiente para obter o resultado esportivo esperado e desejado. (DE ROSE JR, 2002)
v  Riscos de uma pedagogia que opta por especializar a criança cedo
Aqui são apontados alguns dentre muitos: (SANTANA, 2004)

·         Estresse de competição - caracterizado pelo sentimento de medo e insegurança com causa principal por conflitos de uma prática excessivamente competitiva. O medo de errar faz a criança ter medo de executar a ação e ter sua auto-estima ameaçada.
·         Saturação esportiva - a criança manifesta desânimo e desinteresse em praticar a atividade. Uma situação que decorre em virtude de quem praticou o esporte em excesso e não quer mais praticá-lo
·         Lesões - causadas pelo piso duro dos esportes de quadra, pelos buracos em esportes de campo, pelo esforço repetitivo, entre outras causas. Praticado em excesso, inadequadamente podendo ocasionar lesões epifisárias, fraturas e déficit de crescimento.
·         Formação escolar deficiente - entrega demasiada da criança aos treinamentos especializados, tendo jogo aos fins de semana não deixando tempo livre para a criança estudar. Isto segundo Santos (2010) tem resultado negativo principalmente para as crianças que não tem outra garantia que não seja aquela que a educação pode oportunizar.
·         Unilateralização de desenvolvimento - tem a ver com a especialização técnica de determinadas habilidades específicas em ­­­­detrimento ao desenvolvimento global, plural onde a diversificação dos movimentos e gestos técnicos são privilegiados.
·         Reduzida participação em jogos e brincadeiras infantis -  o método parcial de ensino furta o lúdico, a criança fica longe dos jogos e brincadeiras fazendo a criança prescindir do simbolismo, do faz de conta, elementos imprescindíveis para a capacidade de desenvolvimento da criatividade e improvisação.

v  Conseqüências da atividade física intensa em crianças na fase escolar inicial.
A atividade física em crianças em fase escolar inicial deve ter especial atenção do professor de educação física devido a conseqüências que essas atividades físicas podem ocasionar nos educandos em questão.
Segundo Pini apud Abreu et al. (2005) a atividade esportiva deve ser criteriosamente orientada para agir positivamente para o crescimento e desenvolvimento morfofuncional do organismo das crianças envolvidas é preciso levar em conta as fases de desenvolvimento motor, para saber o que é próprio de cada fase. A alta intensidade do trabalho muscular, associada a sobrecarga funcional, pode acarretar em perturbações no desenvolvimento normal da criança, especialmente no ritmo de crescimento e altura além de também influenciar no desenvolvimento somático, funcional e intelectual.
Para Ctenas e Vitolo apud Abreu et al. (2005) o corpo da criança passa por rápido desenvolvimento, principalmente nas extremidades corporais não estando a criança preparada para realização de esforços exagerados.
Rose apud Abreu et al (2006). Diz que exercícios excessivamente realizados podem causar estresse, desviar energia destinada ao crescimento das crianças e ainda provocar lesões, prejudicando a saúde da criança. Adequar à intensidade é uma obrigação do professor. A supressão do eixo GH-IGF-1 (especifica o que é pois nem todo mundo sabe coloca em parêntesis) é outro fator fisiológico que inibe o crescimento da criança.
Do exposto até aqui, suscita para nós uma questão que consideramos importante, qual seja, a de que o ensino do esporte precisa ser melhor debatido e aprofundado por aqueles atuam como profissionais da formação. É necessário que nos debrucemos em torno de uma reflexão sobre a “práxis” pedagógica no campo esportivo.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Etapa de iniciação esportiva e suas fases de desenvolvimento


A etapa de iniciação esportiva é um período que abrange desde o momento em que as crianças iniciam-se nos esportes até a decisão por praticarem uma modalidade apenas. Isto posto os conteúdos devem ser ensinados respeitando fase e o desenvolvimento das crianças em questão. Sendo assim optamos por dividir a iniciação esportiva em três fases que serão mostradas a seguir. (OLIVEIRA E PAES, 2004).

v  Fase de iniciação esportiva I
Essa fase corresponde a crianças entre 7 e 10 anos. As atividades devem ter caráter lúdico, participativo e alegre, oportunizando o ensino da técnica desportiva, estimulando o pensamento tático. Todos os educandos devem ter a possibilidade de acesso aos processos educativos dos jogos e brincadeiras que influenciam positivamente do processo de ensino-aprendizagem. (OLIVEIRA E PAES, 2004).
      Paes (1989) cita que no processo evolutivo a educação do movimento buscando o aprimoramento dos padrões motores e ritmo geral as atividades lúdicas e recreativas tem importância fundamental, pois nessas atividades pode-se trabalhar de forma ampla desenvolvendo capacidades como coordenação, velocidade, flexibilidade e nessa fase da vida da criança entre 7 e 10 anos em média os educandos encontram-se favorecidos devido a plasticidade do sistema nervoso central e as atividades devem ser desenvolvidas sobre diversos ângulos: complexidade, variabilidade, diversidade e continuidade em todo o processo de desenvolvimento. (HAHN APUD OLIVEIRA E PAES,2004)
            Segundo Weineck (1999) as crianças nessa faixa etária anteriormente citada demonstram muita determinação para brincadeiras com variações de movimentos. Este fato mostra que se devem proporcionar as crianças envolvidas no processo um ambiente agradável para que a criança possua seu desenvolvimento sem maiores prejuízos.
            Paes (2001) acredita que os conteúdos abordados devem ser o domínio do corpo, manipulação de implementos, recepção da bola, passes, etc. As regras devem ser adaptadas para adequar-se as capacidades das crianças, pensamento esse que concordo e acredito que seria importante para realização de um trabalho mais eficiente por parte do professor.


v  Fase de iniciação esportiva II
Essa fase é marcada por oportunizar os jovens à aprendizagem das mais diversas modalidades esportivas atendendo indivíduos entre 11 e 13 anos aproximadamente, correspondendo a primeira idade puberal. Nesta fase da-se à aprendizagem de diversas modalidades esportivas dentro de suas especificidades. (OLIVEIRA E PAES, 2004)
Na iniciação esportiva deve-se buscar uma aprendizagem diversificada e motivacional, com objetivo de desenvolver de forma geral o educando. Nesta fase existe muita preocupação dos alunos com a auto-imagem, socialização e valorização, por intermédio dos princípios educativos na aprendizagem dos jogos coletivos. (GRECO, 1998; KREB’S,1992, OLIVEIRA, 1988; E PAES, 2001 APUD OLIVEIRA E PAES, 2004)
Os iniciantes devem participar de jogos e atividades advindos do esporte praticado e até mesmo de outros, que ajudem no desenvolvimento da bilateralidade e no preparo com a base diversificada do esporte escolhido. As competições devem ter caráter participativo, possibilitando ao educando a experiência ligada as competições, mas sem ainda busca do resultado. (OLIVEIRA E PAES, 2004).
Weineck (1999) acredita que além da ótima fase para aprender, onde as diferenças em relação à fase anterior são graduais e as transições contínuas, as capacidades coordenativas dão base para futuros desempenhos, devendo o professor cuidar para evitar a especialização precoce.
v  Fase de iniciação esportiva III
Essa fase corresponde à faixa entre 13 e 14 anos, ou seja, com os alunos passando pela pubescência. Nesta fase deve ser focada a automatização e refinamento dos conteúdos aprendidos anteriormente, e aprendizagem de novos conteúdos de suma importância nesse momento de desenvolvimento esportivo. (OLIVEIRA E PAES, 2004)
Ainda segundo os mesmos autores a idade e o biótipo, além da motivação são características importantes para a escolha da modalidade desejada ou pela busca do refinamento dos gestos e da aprendizagem dos conteúdos aprendidos nas fases anteriores, buscando assim a fixação em uma só modalidade esportiva.
Para Weineck (1991) apud Oliveira e Paes (2004) a seleção de atletas adolescentes é realizada com base em dimensões morfológicas e qualitativas além das dimensões corporais. As condições físicas, além de outros fatores, como afetivos e sociais, são fortes fatores que influenciam na detecção de futuros talentos. Assim sendo a preparação dos fatores técnico-táticos recebe parte considerável do treinamento, no entanto os autores consideram importante o desenvolvimento dos atletas aliado a outros fatores como, por exemplo, o desenvolvimento das capacidades físicas. O foco é desenvolver todas as capacidades, de forma homogênea buscando preparar os adolescentes para a vida e para posteriores práticas especializadas.
Com base nas considerações até aqui apresentadas pelos diversos autores nos leva a pensar que dentro do processo de iniciação em diversos esportes existe uma tendência de diversos profissionais conduzirem seus alunos ao uma especialização precoce.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A iniciação esportiva em perspectiva

A Iniciação Esportiva em Perspectiva

De certa forma o envolvimento com esporte é algo corriqueiro na vida das crianças brasileiras, e ainda cedo muitas delas iniciam sua trajetória particular. Para Santana (2005), a iniciação esportiva é o período no qual a criança começa a aprender de forma específica e planejada a prática esportiva, em busca de uma iniciação em uma ou mais modalidades que proporcionem a criança continuidade ao seu desenvolvimento de forma integral, sem a necessidade de estarem envolvidos em competições regulares.
O mesmo autor (2008) também nos diz que o ensino do esporte deve estar vinculado ao projeto pedagógico da escola, atendendo seus objetivos, e o professor, neste contexto, com a tarefa de dar um tratamento pedagógico para o esporte de tal forma que esse possa auxiliar na direção de educar e emancipar os educandos.
Bergamin (2007) recorre a Incarbone (1990) para nos chamar a atenção de que na iniciação é importante fazer com que a criança desenvolva varias habilidades motoras. Ainda, em alguns casos, contrapondo-se ao esperado que seria tratar pedagogicamente o esporte, muitos profissionais e especialistas utilizam uma pedagogia pautada em referenciais de rendimento; conquistas, quebra de recordes, resultados imediatos. Logo uma pedagogia preocupada menos com a educação e complexidade e mais com a descoberta e revelação de talentos, algo que segundo Santana (2004) não deveria ocorrer.
Ao abordar o assunto em foco, Voser (1999) coloca que ao orientarmos os que iniciam nos esportes devemos possuir a clareza que a atividade esportiva por si só não educa, os seus efeitos educativos dependem da situação na qual se cria especialmente em relação aos aspectos de interação-social ao clima afetivo, emocional e motivacional existente e disto depende a perspectiva pedagógica que adotamos. O que, por conseguinte implica na intervenção do professor, que em si caracteriza um modo de educar.
Mutti (2003) descreve que a educação é uma trabalho essencialmente humano, ou seja, homem interferindo na formação de outro homem e nenhum trabalho humano pode ter efeito sem uma metodologia consistente, o método didático é um dos mais importantes fatores que o professor dispõe para realizar o ensino. Mutti (2003) citando Nérice nos diz que o método didático é um conjunto de procedimentos escolares lógicos, psicologicamente e pedagogicamente estruturados em que o professor se baseia para orientar a aprendizagem do educando a fim de que este adquira conhecimentos e técnicas ou assuma atitudes ideais.
Destarte Voser (1999), coloca que as principais tendências pedagógicas são definidas como reprodutivas tradicionais e reprodutivas construtivistas. A concepção reprodutiva tradicional é aquela que tem como prioridade as capacidades intelectuais situando-as como primeiro e mais elevado objetivo na formação do indivíduo, seus procedimentos didáticos enfatizam processos normativos que objetivam uma disciplina rígida, é uma exposição de conhecimentos pelo professor aos educandos ouvintes e passivos. No caso da concepção construtivista pressupõe estratégias de intervenção pedagógicas manifestadas através da integração entre educação intelectual e corporal e de um conceito de autoconstrução, ou seja, o processo de elaboração do conhecimento se dá a partir da participação e intervenção ativa do indivíduo em todos os níveis de aprendizagem. O educador deverá adotar uma posição de estimulador dessas relações de interação.
Ainda com relação à questão, Garganta (1998) afirma existir duas abordagens pedagógicas de ensino do esporte: a primeira abordagem é uma abordagem mecanicista, onde a técnica é o aspecto central, onde o jogo é fragmentado em elementos técnicos como: passe, drible, arremesso entre outros. Os gestos são ensinados, aprimorados e especializados e como conseqüência os treinos tendem à monotonia, pouco criativos, ocasionando comportamentos pré-determinados e estereotipados, resultando na dificuldade do educando na compreensão do próprio jogo. Esses problemas podem provocar desvios na compreensão, aprendizagem e evolução do aluno. E a segunda abordagem é a das combinações de jogo contidas na tática por intermédio de jogos condicionados que são fundamentais para compreensão do jogo e preparam o aluno para o jogo na sua dinâmica. Ao ensinar algum esporte as crianças essas e outras questões devem ser consideradas, lembrando sempre que estamos lidando com sujeitos em formação.
            Mutti (1998) acredita que inserir crianças pequenas no esporte faz sentido se as aulas contemplarem, além de vivências das habilidades específicas, a vivência de habilidades básicas, de atividades diversificadas, oportunizando-os a experiência do jogar em diferentes posições e mesmo, sem guardar posições. Tendo em conta a freqüência semanal máxima de três vezes e a participação de todas as crianças independentemente do seu nível de desenvolvimento, nas vivências, nas brincadeiras e nos jogos adaptados; fomentando um ambiente alegre, rico e com possibilidades de desenvolver os aspectos sociais, morais e cooperativos num ambiente livre de pressões e expectativas.
Isto também é o que defende Santana (2002) ao propor uma inter-relação entre a pedagogia do esporte e o pensamento complexo com a iniciação esportiva. O autor acredita que a pedagogia do esporte tradicional foca suas intervenções no campo da racionalidade, deixando à margem do processo dimensões humanas sensíveis como afetividade, racionalidade, e que, do pensamento racional resultam atitudes pedagógicas como supervalorização da competição. Para ele a competição de jovens crianças não deve ter seu fim em si mesmo, ou seja, não deve buscar nas competições os resultados esportivos e sim os resultados relacionados ao desenvolvimento da criança.
E no caso, a pedagogia esportiva não se resume a métodos de treinamentos, ela é mais complexa do muitos imaginam. Nela, outros valores são encontrados paralelamente ao competir, como: a participação, a alegria, a cooperação, a perseverança e a auto-estima, que em poucas oportunidades são levados em consideração. O enfoque dado pelos professores à competição, esse, sim, deve ser discutido como possibilidades de ir além do ensino do gesto técnico.
A iniciação esportiva é para Voser (1999) um processo de ensino-aprendizagem que proporciona ao educando condições de desenvolver as técnicas para o esporte em si, mas como o próprio autor enfatiza é momento para desenvolvimento e não de saturar meninos e meninas com sobrecargas para as quais precisam amadurecer. Ora Sabemos, que no caso aprendizagem das habilidades motoras fundamentais, não existe período melhor que a infância e onde, portanto, devem ser trabalhados os fundamentos da técnica, mas moderadamente, respeitando os limites e as fases de desenvolvimento da criança inserida no processo.
Vale ressaltar que estamos a tratar duma fase crucial para os seres humanos, pois, tudo que acontece no período da infância vai marcar os educandos no decorrer das suas vidas. E as lembranças de seus primeiros jogos, das alegrias ou dissabores, das realizações ou frustrações, pesam sobre a responsabilidade do professor de educação física, por ser ele na maioria dos casos quem inicia as crianças no esporte. (VOSER, 1999). Assim sendo, os profissionais ligados a iniciação esportiva deverão ter um conhecimento aprofundado ou até mesmo vivência no esporte que lecionam conhecimentos que inclui informações a respeito do grupo com o qual trabalhará suas condições e limitações. Para isso acontecer o educador deve estudar e pesquisar nas áreas diretamente envolvidas e está aberto ao conhecimento que se acumula e se renova.
Ainda recorrendo a Voser (1999) diríamos que na iniciação esportiva o educador deve desenvolver com seus alunos os aspectos de esquema corporal, equilíbrio, organização do corpo no espaço e no tempo, desenvolver a motricidade fina e não descuidar dos gestos que marcam essa fase da vida como correr, saltar, lançar, transportar, rastejar e rolar, pois do contrário estaremos limitando horizontes. O professor deve abrir espaço em suas aulas para uma grande quantidade de experiências motoras, bem como oportunizar uma grande variedade de objetos em situações diversas possibilitando assim, que o educando se conscientize do próprio esquema corporal. E no espaço escolar principalmente, fomentar um trabalho interdisciplinar integrando a educação física com as demais disciplinas da escola.
Realizar atividades de forma lúdica e recreativa quase sempre trará como resultado uma maior atenção e disposição da criança em realizar as atividades, pois para ela o que mais importa é o prazer de jogar e com alegria. Atividades nesta perspectiva devem priorizar a sociabilização, a integração, e a auto-estima, estimulando a criança à organização, a criação de atividades e isto não implica para o professor perder o controle da turma, mas, uma forma de conduzir a prática pedagógica mantendo a motivação dos alunos e o interesse deles sobre a atividade (VOSER, 1999).
Num de seus relatos Mutti (2003) afirma que para chegar ao domínio de habilidades complexas existe um longo processo e para isso as vivências com os movimentos fundamentais como andar, correr, saltar, rolar, etc, são valiosos e servirão diretamente de base para melhoria e aquisição de habilidades das etapas posteriores do desenvolvimento. À medida que o aluno cresce, apresenta melhoria e aperfeiçoamento das habilidades já incorporadas, como a capacidade de combiná-las com atividades sociais e intelectuais, o tempo de aperfeiçoamento das habilidades motoras está condicionado à condição do organismo de antecipar respostas mediante as adequadas compensações posturais. Assim sendo, as habilidades adquiridas e automatizadas pelo educando servirão de base para o desenvolvimento de outras etapas mais refinadas e complexas.
O autor acima, também nos diz que quanto maior for a variedade de experiências motoras que a criança tiver, maior será as possibilidades de desenvolvimento motor ampliado, o que não se adquire em tempo hábil do desenvolvimento motor da criança repercutirá negativamente. Ainda em suas colocações, ressalta que a iniciação da modalidade esportiva deve ser uma continuidade do desenvolvimento motor que está sendo realizado e nesse momento devem ser aplicados diversos movimentos e experiências que resultem no aumento do acervo motor da criança; o que ocorrerá paulatinamente através da combinação de jogos, gestos técnicos, regras e utilização de implementos o esporte praticado e incorporando-se ao acervo motor da criança.
Deste modo, deve-se incentivar os educandos de forma geral e ainda mais os que possuem maiores dificuldades de aprendizagem tecendo elogios e os motivando e para aqueles que possuem mais facilidade devem ter o compromisso, auxiliando o professor, de colaborar na transmissão da sua experiência, sem serem colocados como exemplos a ser seguido, pois cada um tem seu tempo próprio. Por isto, o professor deve respeitar a individualidade de cada criança e deve estar atento à progressão dos exercícios partindo sempre do mais simples para o mais complexo. Além do que, neste contexto, é preciso avaliar o desenvolvimento psicomotor dos educandos que aparentemente são mais desenvolvidos fisicamente, mas que possuem a mesma capacidade mental das outras crianças de sua faixa etária. A maturidade mental e motora das crianças deve ser digna de destaque e atenção (VOSER, 1999).
É de se ressaltar, que um simples trabalho de correção realizado em um período curto e agregado a repetição livre e controlada, permitirão ao educando atingir rapidamente uma execução segura e fácil. Essas correções devem ser realizadas com muito cuidado e atenção, pois a correção de forma exagerada pode tirar do aluno a motivação na realização das atividades. Nesta conjuntura, coloca Mutti (2003) que o movimento total é sinal que a aprendizagem do movimento terminou e que quanto mais correta for a execução do todo, mais correta será a execução das partes que compõem tal movimento.
De um modo geral, inferimos que no processo de ensino e aprendizagem do esporte, seja qual for à modalidade em questão, é significativo dar importância a fatores externos que possam interferir no trabalho realizado pelo professor. Mas é de igual valor enfatizar aqui os diálogos estabelecidos entre professores e pais - que exercem pressão exacerbada sobre seus filhos, projetando neles um campeão, que muitos não foram - a fim de mostrar o que essa pressão sem par pode acarretar (VOSER, 1999).
            Dada a importância que a iniciação esportiva tem assumido na atualidade, além da proliferação das escolas de esportes em nosso meio, bem como a ênfase acentuada deste fenômeno que mais e mais atinge crianças em formação; julgamos oportuno nesta parte do trabalho apresentar uma idéia das etapas de iniciação esportiva e as fases de desenvolvimento, com o objetivo de chamar a atenção de nosso leitor para as adequações que elas solicitam aos envolvidos com o ensino do esporte.
Vale destacar que a idéia que abaixo segue não é uma regra a ser seguida de forma irrestrita, mas tão somente, uma perspectiva a ser observada.