quarta-feira, 3 de agosto de 2011

INICIAÇÃO ESPORTIVA E ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE, UMA REFLEXÃO DE CARÁTER PEDAGÓGICO

               A partir desta postagem estarei desmembrando um trabalho de pesquisa realizado por mim com a orientação do Professor Mestre Francisco Xavier dos Santos. O tema é de total relevância para os que entendem que o esporte é importante na vida das crianças, mas a maneira como a criança é iniciada pode ser preponderante para o gosto ou não da criança pelos esportes.

Este trabalho de monografia incursionou por uma revisão de literatura em torno do tema que envolve o desporto, o trabalho de iniciação esportiva e a especialização precoce.
Tal incursão se deu dentre outras coisas, por termos observado nos últimos anos uma proliferação das denominadas escolinhas de Iniciação esportiva  de modo particular no Brasil se caracterizando como um fenômeno singular talvez pela possibilidade de ascensão social através do futebol, algo bastante difundido em nosso meio[1]. Embora a perspectiva pedagógica destas escolas varie o que se vê na prática é que boa parte delas visam especializar a criança em uma única modalidade, projetando em muitos casos um futuro atleta. Sem contar que na maioria das vezes, deixa de respeitar as fases do desenvolvimento dos seus alunos, aplicando em seus treinos, métodos semelhantes aos treinamentos dos atletas adultos o que acaba comprometendo aspectos do crescimento, do desenvolvimento e da formação da criança. (VOSER, 1999).
            Atualmente tornou-se comum encontrarmos crianças envolvidas com atividades esportivas e até mesmo jogando uma grande quantidade de competições, sejam elas federadas[2] ou não e na maior parte dos casos com um grande nível de exigência e de expectativas. Embora haja escolinhas alhures, no caso das mantidas pelos clubes com mais torcida e que possuem equipes profissionais de futebol de campo, as exigências e cobranças são maiores.
            Para De Rose Jr. (2002), toda competição exige preparação e treinamento, seja qual for o nível, e isso pode ocorrer precocemente, causando diversos problemas para criança. Uma série de estudos aponta os efeitos negativos do treinamento precoce[3] no aparelho locomotor e cardiorrespiratório, na coluna vertebral, no crescimento, e na maturação sexual, deste modo os riscos sofridos pelas crianças na especialização precoce deve se constituir na maior preocupação dos responsáveis envolvidos no trabalho.
            A atividade física em criança, em princípio, deve ser prescrita e orientada com os objetivos de criar o hábito e o interesse pela atividade física, de forma prazerosa e priorizar a inclusão delas no cotidiano, valorizando sua prática como um bem para toda a vida e sem deixar de enfocar e estimular, sobretudo, o componente lúdico da mesma. Atividades com o foco em capacidades físicas voltadas para a criança como: coordenação, orientação espaço-temporal, equilíbrio, contato social, ritmo devem ser estimuladas como elementos pertinentes ao desenvolvimento corpóreo; mas associadas a uma a maior descontração e liberdade possível tornando a atividade a mais prazerosa possível, com a criança praticando o esporte como brincadeira, como um passa tempo que lhes é de direito enquanto ser em formação e sem a intenção de fazer dela, antes do natural processo de maturação[4] um protótipo de atleta, e em muitos casos um atleta adulto em miniatura.
            É comum encontrar crianças com cinco, seis sessões de treinamento semanais visando o título em competições, que trarão “status” de vencedor, mas poderão trazer prejuízos irremediáveis a esses pequenos praticantes, cargas estas desaconselhadas por Gomes e Machado (1999). Esse treinamento excessivo visando competições leva a especializar precocemente a criança uma vez que as orientações sejam elas táticas técnicas e mesmo físicas são repetidas em grande escala e acabam não só podando a oportunidade da criança participar em várias funções do jogo como diminuindo suas possibilidades de experiências e de enriquecer o seu acervo motor. Ao invés disso percebe-se uma ênfase na repetição e no aperfeiçoamento de uma técnica refinada “exigida” pelo treinador, quando muitas vezes sequer as habilidades motoras básicas foram desenvolvidas a contento. Essa poda tende a diminuir a capacidade de desenvolvimento da criança, gerando sérios prejuízos a longo prazo.


[1]  O Brasil ainda é um país marcado pela desigualdade social e de extratificação social bem marcada o que leva principalmente os meninos de classes menos favorecidas a verem o futebol como uma possibilidade de ascender na vida social.
[2]  Um termo usado para designar atletas registrados e competições organizadas por federações esportivas.
[3] Ramos e Neves (2008), prática especializada de uma modalidade antes da puberdade.
[4]  Esse assunto é alvo de discussões de Go Tani et al  (1988)

Referências:
·                                  -DE ROSE JR. D. A criança, o jovem a competição. In: DE ROSE JR, D ( organizador). Esporte e atividade Física na Infância e Adolescência: Uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre-RS: Artmed, 2002. P.67-76
      -GO TANI, et al. Educação física escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU, 1988.
      -RAMOS, A. M.; NEVES, R. L. de R. A Iniciação Esportiva e a Especialização Precoce à Luz da Teoria da Complexidade – Notas Introdutórias. Revista Pensar a Prática, v.11, n.1, 2008.
 -VOSER, RC. Et al. A criança submetida precocemente no esporte: benefícios e melefícios.FUTSAL BRASIL Maio 2007. http://www.leffa.pro.br/textos/abnt.htm#5.16.2 acessado em 09.07.10


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